Em maio de 2006 perdi meu pai em consequência de um linfoma, após quase três anos de um tratamento sofrido. Não vou entrar aqui em mérito de questão etc. Fizemos o que foi possível à época. Infelizmente a doença foi mais forte. Se pensar em tirar alguma coisa boa da situação toda, posso dizer que aprendi a ser mais paciente e a lidar com médicos em instituições públicas. Que são pessoas surpreendentes, quase sempre pelo excelente humor com que lidam com os seus pacientes e a cara alto-astral. Como, por coincidência, só tenho tido contato com profissionais que tratam diretamente com a questão da morte, penso que os mesmos sejam inclusive orientados a agir assim, e que de noite, em casa, tiram a maquiagem e desabam no choro. Igual os palhaços.
A Dra. Juliana, aquela que me atende no posto de saúde, é geriatra. Assim como os oncologistas ela também lida mais diretamente com a ideia da morte, e talvez por isso, na escola, ela tenha aprendido esse clima de alegria, vai dar tudo certo. Como ontem fui procurá-la me queixando de uma dor, ela abandonou o espírito carrasco das vezes anteriores e me recebeu no maior pique. Acho que só não serviu cafezinho porque em repartição pública depois das 17h a cozinha já fechou. Eu, escolado, entrei no clima e fui descrevendo a minha dor de garganta com todo bom humor possível.
- Pois é, doutora, está desde terça-feira essa garganta desse jeito. Fiz de tudo para não tomar remédio, gargarejei com água oxigenada e sal, água morna e bicarbonato, usei própolis, tintura de romã, e nada.
- Ah mas eu sempre recomendo água morna, sal e vinagre. É ótimo. E você está tossindo?
- Desde hoje cedo, ainda tive de ficar fazendo esforço para não tossir na reunião geral lá no trabalho.
- É mas você está com hálito. Isso aí deve estar tudo inflamado. Abre a boca!
E eu, puta merda, será que esqueci de escovar dente?
- Não falei? Tudo inflamado! Isso é uma faringite e das boas!
- A senhora nem imagina o quanto que está doendo para engolir. Almoçar é um sacrifício. Outro dia eu fiz uma vitamina de banana, morrendo de fome, e pus aquela farinha que a senhora mandou. Menina... Desceu igual uma lixa!
- Também, quem mandou engolir linhaça com a garganta inflamada? E você já emagreceu bem, parabéns! Faz o seguinte: toma esse antiinflamatório por três dias. Eu acho que é virótico, pelo que você disse, mas se domingo não melhorar, entra com esse antibiótico. E tome bastante gatorade.
- Mas eu queria uma injeção de benzetacil!
- De jeito nenhum, ia ser judiar muito de você! Se fosse um tratamento de sete dias até ia. Mas esse de três é melhor tomar o remédio mesmo! Agora vai, e continua com o regime que vai dar tudo certo!
Saí do posto com os remédios (conta exata – não vai sobrar nem faltar), sem gastar um real, e elogiado pela médica carrasca, que não hesita em dizer que vou morrer de cirrose e de diabetes, mas tem dó me aplicar benzetacil. Tomei o primeiro comprimido ontem e hoje acordei já com a garganta melhor. Hoje ainda estou na sopa, mas a partir de segunda eu vou ter de malhar muito, mas muito mesmo. Sinto que tem uma fera faminta dentro de mim, louca para comer coisas como: torrada, bife, cenoura crua e por aí vai.
P.s.: Não pesei essa semana nem vou pesar. Só peso de novo por volta do sábado que vem, ou ainda com mais uma semana de intervalo para me recuperar totalmente. Sei que estou abaixo dos 88 kg, mas sei que essa semana o que perdi foi líquido e massa magra. Então não conta, porque vai voltar tudo.
sábado, 28 de março de 2009
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Um comentário:
que ótimo texto!
adorei tudo, vou passar aqui sempre!!!
Beijo da Paty
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