quinta-feira, 2 de julho de 2009

174 : 1

Puxando a memória, me veio um conto que não lembro onde li nem de quem ouvi. Na verdade não lembro nada, a não ser que ele se parece com a Bela adormecida, em outra versão. Salvo engano a história não tem final. É a mesma premissa de sempre, porém o personagem aqui é um príncipe, que por alguma razão desconhecida (e provavelmente babaca, sempre achei babaquice do rei não convidar a Malévola), é amaldiçoado por um bruxo (ou bruxa) com a capacidade de ser bem-sucedido em tudo aquilo que tentasse.

À primeira vista parece algo bom, só que, como o príncipe faz tudo com muita facilidade, não consegue se focar em coisa alguma e acaba virando um jovem frustrado e desinteressado. Repito, não sei como termina e o Google, quando citei traços da história, mostrou tanta página de auto-ajuda que desisti. O tema, aliás, é recorrente em casos da literatura (mais à mão, de cabeça, o livro Aos meus amigos tem um personagem com esse perfil e o mesmo drama — e se mata meio que por isso, mas tipo é a primeira página do livro então continua valendo a pena ler) e, pasmem, no meu mapa astral. Há pouco mais de um ano fiz um mapa profissional (pago) no famigerado Personare, que disse assim:

Seu mapa astrológico apresenta uma configuração rara, chamada "locomotiva": os planetas não se concentram em um setor específico. Eles se espalham por todo o mapa, ativando casas diferentes, em distâncias mais ou menos regulares. Esta distribuição sugere, no positivo, que você tem mais talentos do que a maioria das pessoas. É mais livre para seguir a carreira que lhe vier à mente e poderá se destacar em áreas totalmente diferentes. Em um sentido não tão positivo, é possível que você venha a ter muita indecisão na hora de optar por um caminho. Precisa refletir muito, pois vê diante de si uma multiplicidade enorme de possibilidades!

Ou seja, teoricamente eu nasci para fazer o que quisesse (e que a minha mãe não leia isso e insista para que, aos 32 anos, eu dê uma chance à medicina), com chances boas de dar certo. Nem tudo é perfeito, tem umas merdas na parte de ganhar dinheiro (só com muita ralação mesmo, e olhe lá), então vamos pular essa parte. Ainda escrevo de graça. Mas, fora isso, nunca mais trabalho de graça na vida, obrigado.

O fato é que, já dando um direcionamento ao meu objetivo efetivo da coisa, muito por me identificar com a figura do príncipe frustrado, que sabe fazer tudo e ao mesmo tempo não gosta de nada (é um reclamão, diriam alguns, está de barriga cheia e com depressão), e também por me interessar em ver as coisas por outra perspectiva, vejo o erro, o "dar errado", como um grande aprendizado. Concordo com a música perdendo dentes, na qual as brigas em que perdemos é que ficam na memória. Os erros fazem nossas cicatrizes.

Pensando nisso elaborei uma lista de erros meus. Ou defeitos, como bem quiserem, porque não farei exatamente uma confissão de culpa. Vamos à lista:

1. Eu canto mal à beça. E não deixem se enganar, porque eu vivo cantando acompanhando o mp3, me achando. Só que, sim, sou um desafinado de marca maior. Consequentemente, por gentileza, karaokê passa longe de mim.
2. Deixo coisas pela metade. Isso deveria ir lá para o alto, como defeito número um (e justificativa para o post imenso). Vai ficar aqui, camufladinho, porque defeito grande a gente esconde. Tenho um blog morto, um conto inacabado, não me formei em nenhuma das duas faculdades que entrei (abomino a ideia de voltar, diga-se), e alguns livros que parei de ler no meio. Fora, claro, outras coisas mais sérias.
3. Sou péssimo para lidar com dinheiro. A minha vontade, tem horas, é de pegar tudo o que ganho, dar na mão de alguém e dizer: cuide disso para mim. Porque:
4. Gasto demais com bobagens e porcarias de todo nível. Eu tenho zil filmes que não vi, séries que comprei e não terminei (tópico 2...), as roupas procriam em meu armário e por aí vai. E nem adianta as sessões de descarrego do guarda-roupas, porque parece que tem um bicho lá dentro que faz tudo se multiplicar assim que eu esvazio.
5. Sou chato, velho e rabugento. E temperamental. Mas isso não é novidade para ninguém.
6. Sou (ou voltei a ser) muito, muito vaidoso.

Daí que esse blog chegou no meio do que eu propus (ir até janeiro), e está na fase de eu desanimar e chutar tudo para o alto. Principalmente porque hoje mesmo me perguntaram para que continuar sendo que já atingi, mais ou menos, a minha meta. Daí a revisão e o levantamento de defeitos. Porque é com base neles que vou tentar tocar isso aqui. Ainda focando em manutenção e cuidado com a saúde. Mas sem receita milagrosa para perder 20kg em seis meses. Infelizmente não tem, não vende em cápsula.

Agora é o tempo de buscar o equilíbrio: pessoal, afetivo e financeiro. A cabeça de gordo não pensa gordo só para comida. E o tempo agora é de rever as prioridades e "comer menos" fora do restaurante. Se eu chegar no fim do ano uma pessoa pelo menos um pouco melhor do que sou hoje, já é uma vitória. Senão, pelo menos tenho motes de histórias para contar por aqui. E para quem leu en passant que tenho um conto pela metade uma das vontades é continuar a história. Quando ficar pronto posto um link aqui, combinados? Mas sem cobranças!

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